terça-feira, 25 de março de 2014
 

Meio Ambiente, saúde e futuro


A grande viagem destinada à salvação da humanidade, empreendida pelas organizações entre as quais se destaca a atividade do Pnuma, tem enfrentado entraves, problemas e impasses de difícil travessia.

Compreensíveis, até certo ponto, as reações têm se caracterizado por descrer dos resultados, estudos e pesquisas realizados, quando, principalmente, suas conclusões vêm de encontro aos planos ou interesses de pessoas ou companhias.

A insuportável cadeia de agentes poluidores da água, do ar, do subsolo representa, às vezes, somas enormes investidas em atividades produtivas que, na maior parte das vezes, não foram avaliadas quanto a sua potencialidade de trazer males para a natureza.

Sempre defendo que a atitude poluidora do homem não destruirá a natureza, o planeta, a terra. Mas sem dúvida retirará, em pouco tempo, as condições mínimas de habitabilidade humana.

Os relatos são dramáticos e surpreendem pela grandeza de seus números, e, o que mais preocupa, com a sua enorme carga científica qualificando suas previsões e informações.

Prover as condições básicas de saneamento à sociedade, dos mais influentes aos mais abandonados, traduzidas em água limpa e esgotos, é providência que parece, nos países em desenvolvimento, ser do desagrado dos governantes. Uma ponte se vê de longe, um esgoto, nem de perto.

Nada nos separa mais de um país desenvolvido do que o conjunto educação e saúde, sendo o primeiro dotado de excepcional capacidade de cobrança, fato que não se coaduna com administradores públicos mais preocupados com seus bolsos do que com os bolsões de miséria.

Os desafios da convivência entre os interesses econômicos, vis a vis, empregos gerados, riquezas transacionadas, crescimento social e as metas de segurança para o futuro da humanidade, precisam de análise cuidadosa e paralela. Não se pode tratar de assunto tão grave sem ouvir, levar em consideração, pesar prós e contras, dos lados envolvidos para que os resultados possam beneficiar as populações.

A exploração de shale gás/óleo nos Estados Unidos deflagrou no mundo inteiro reações de aspectos os mais diversos. Todos os países passaram a procurar, com ansiedade, suas rochas subterrâneas com esperança de encontrar riquezas tão importantes. Já, por outro modo de observar, os defensores da habitalidade humana passaram a avaliar os males que tais investimentos possam trazer para todos.

A potencialidade de poluir e sua medição de impactos possíveis (sem nunca esquecer o Golfo do México e o custo assumido pela BP) são fundamentais nos dias de hoje, quando, tanto os mares como os solos estão sendo perfurados em velocidade nunca vista e com resultados financeiros extraordinários; pois quanto mais resultado for apurado, mais furos serão feitos.

A educação como caminho para a redenção dos países é item inquestionável e, seguramente, não faz parte das obrigações primárias de grande quantidade de nações que trafegam no atraso e nas trevas para servir às elites encasteladas nos tronos revestidos de ouro, às vezes, tinto de sangue.

A continuação de problemas de secas, por exemplo, em regiões brasileiras com quantidade de chuvas que bastariam às necessidades das populações, se tratada com visão de resguardo e cuidado, traduz, de certa maneira, o descaso relativo a providências com grande impacto no futuro. Quanta água no nordeste brasileiro vai para os mares? Por que não se constrói uma sequência de barragens que segurem o líquido precioso para servir à sede, à agricultura e ao progresso? Por que a transposição do São Francisco se transformou em projeto inacabado, mas consumidor até agora de milhões de reais?

A quem interessa a manutenção de um status quo com séculos de existência? A quem poderia interessar senão àqueles que, fingindo ajudar, apenas se locupletam com a miséria de tantos?

É muito interessante que em artigo que trata de poluição, de meio ambiente, de salvação do planeta para os humanos, se resvale, com tanta facilidade, para problemas sóciopolíticos. Será que as respostas estão aí? Será que o mundo reagirá mais firme contra o que parece inexpugnável: a destruição do meio ambiente.

O binômio água limpa e esgoto, somado à educação, é a única e possível fórmula de crescimento de um país. O número de crianças doentes, significando adultos sem saúde, tem aumentado numa proporção alarmante nos países pobres e em desenvolvimento. Precisamos, com urgência patriótica, cuidar para que, por parecer simples, mas lógico e inadiável, deixe de ser tão relegado a terceiro nível de importância.

Quais os valores envolvidos no tratamento de doenças oriundas da falta de condições sanitárias básicas? Seria preciso fazer esta avaliação para que os poderes públicos deixassem de trocar os votos conseguidos por obras arquitetonicamente reluzentes, mas socialmente inaceitáveis, por apoios conseguidos pela redução da mortalidade infantil, por números de adultos saudáveis e participantes do progresso de cada país.

É, por todos os aspectos, lamentável a falta de consciência ambiental ainda dominante nas populações. A falta deste conhecimento implica na redução de cobrança social de bem tão importante que, por ser vociferado por poucos, passa despercebido das maiorias.

Há pouco tempo, depois de ouvir um discurso de um prefeito da Baixada Fluminense, dando conta de sua administração de grandes resultados, perguntei sobre a situação de investimento em condições sanitárias básicas. A resposta, lacônica, foi: “Lamentável, apenas quarenta por cento das habitações dispõem de água e esgoto”. E ainda achava ter sido um bom prefeito.

Finalmente, para uma análise quase tristonha de um país que não cuida, como deveria, de preparar as bases para um verdadeiro desenvolvimento, não vejo qualquer condição de crescimento consistente e duradouro sem um projeto definitivo de cunho socioeconômico que vise fundamentalmente a três aspectos principais: 1 - infra estrututura, compreendida como portos, aeroportos, estradas, vias fluviais navegáveis sendo incorporadas aos meios de transporte; 2 - cobertura de cem por cento das residências com esgoto tratado e fornecimento de água limpa; e 3 - educação universalizada de verdade.

Falo finalmente do Brasil, onde cada ministro da Educação que assume se refere aos vergonhosos milhões de analfabetos que ainda temos (somados àqueles que se dizem capazes de ler alguma coisa, mas inábeis para entender o que leram), onde não existe um responsável direto pela implantação de índices sanitários e ambientais desenvolvidos (quem é? O ministro da Saúde, o das Cidades, o da Educação, o do Meio Ambiente? Vai ver que é o da Justiça). Vergonhosamente, dados da Unicef informam que morre uma criança a cada 15 segundos por falta de saneamento básico; leia-se água limpa e esgoto tratado. Espero que o Brasil, em pouco tempo, deixe de colaborar para dados tão lamentáveis.

A universalização da saúde é um passo definitivo para a instalação de uma democracia da qual vamos nos orgulhar.

Antenor Barros Leal é presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro

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