segunda-feira, 23 de novembro de 2009
 

Rosto Humano às Mudanças Climáticas


Por Thalif Deen


18/11/2009 (IPS) – Relatório da ONU sobre às mudanças climáticas aborda uma nova perspectiva humana em relação a um debate que se tem centrado, em especial, na eficiência energética e nas emissões industriais de carbono.


As mudanças climáticas são muito mais do que emissões de gases que provocam o efeito estufa, afirma o estudo apresentado pelo Fundo de População da Organização das Nações Unidas (UNFPA). Também é a dinâmica demográfica, a pobreza e a igualdade de gênero. “A medida que a velocidade do crescimento demográfico, das economias e do consumo superam a capacidade de ajuste da Terra, às mudanças climáticas podem se tornar muito mais extremas, e possivelmente, catastróficas”, adverte o “Estado da População Mundial 2009”.



A diretora executiva do UNFPA, Thoraya Ahmed Obaid, destacou que o dano ambiental é “um dos riscos mais injustos de nosso tempo”. “O rastro de carbono de milhões de pessoas pobres na Terra é 3% do total mundial, apesar de serem os mais pobres, especialmente as mulheres, que suportarão a carga desproporcionada das mudanças climáticas”, disse.


Em um contexto de aumento da população mundial – que se aproxima de 7 milhões de pessoas – cada vez há mais evidências de que às mudanças climáticas são uma consequência da atividade humana.



“A influência da atividade humana sobre o clima é complexa; diz respeito ao que consumimos, ao tipo de energia que produzimos e utilizamos, se vivemos na cidade ou no campo, em um país rico ou pobre, se somos velhos ou jovens, ao que comemos, inclusive a medida que os homens e as mulheres disfrutam da igualdade de direitos e oportunidades”, afirma o relatório.



O estudo foi difundido pouco antes da 15 Conferência das Partes (COP15) que ocorrerá entre os dias 7 a 18 de dezembro em Copenhague. Um acordo internacional que ajude a reduzir as emissões de gases do efeito estufa e que aproveite a perspectiva e a criatividade de mulheres e homens servirá para lançar uma estratégia mundial efetiva à longo prazo para abordar o aquecimento global.



Mas durante a conferência de líderes mundiais realizada na semana passada em Singapura, foi decidido apostar somente em um acordo “politicamente vinculante” em Copenhague, e se esquecer do tratado legalmente vinculante - talvez até uma conferência futura no próximo ano que ocorrerá no México.



Consultado sobre o cenário político, Richard Kollodge, editor do relatório do UNFPA, disse a IPS:



“Mesmo que a conferência de Copenhague tenha ou não como resultado um tratado ratificante sobre às mudaças climáticas, o processo de se trabalhar para um acordo global que estabilize o clima e afronte os impactos continuarão por muito tempo”. A UNFPA seguirá promovendo o fortalecimento das mulheres, através da educação das meninas e um maior acesso a saúde reprodutiva e planificação familiar voluntária, disse.



Kollodge também afirmou que este relatório terá relevância para outros temas, além de Copenhague. Ao dirigir-se aos presentes durante a última conferência da ONU sobre as mudanças climáticas, em setembro, a presidenta finlandesa Tarja Halonen se focou na perspectiva de gênero. “Sabemos que as mudanças climáticas afetará seriamente as regiões mais pobres e aos grupos humanos mais frágeis”.



Por volta de 70% dos pobres do mundo são mulheres, e elas são as que mais sofrerão os efeitos das mudanças climáticas, disse. “Ao ajudar as mulheres a sobreviver no cotidiano, podemos promover os objetivos gerais do desenvolvimento sustentável”. Halonen também disse que as mulheres serão poderosas agentes na mitiação das mudanças climáticas. “Necessitamos garantir a participação plena e ativa das mulheres, tanto na redação como na implementação do novo acordo”, disse. Obaid afirmou que o estudo da UNFPA mostra que as mulheres tem o poder de se mobilizarem contra o aquecimento global, mas esse potencial pode ser eficaz somente através de políticas que garantam poderes a elas.



Ampliando o debate, o relatório aponta que as mudanças climáticas dizem respeito aos seres humanos. “As pessoas causam às mudanças climáticas, mas também são afetadas por elas. E elas devem se adaptar ao aquecimento global; e somente nós temos o poder de mitigar seus efeitos”, argumenta. A influência das mudanças climáticas sobre as pessoas é descrita como “complexa”, já que aumenta as migrações, destrói os meios de sustento, altera as economias, impossibilita o desenvolvimento e exacerba as desigualdades entre os sexos.



O relatório enumera vários riscos relativos às mudanças climáticas. Para 2075, entre 3000 e 7000 milhões de pessoas poderão enfrentar uma escassez crônica de água, e é possível que um em cada seis países sofram uma crise alimentar devido a secas severas. Além disso, 30% das espécies de plantas e animais podem vir a se tornarem exitintas se o aumento da temperatura global superar os 2,5 graus. Entretanto, segundo as estimativas atuais, a temperatura mundial média poderá aumentar em 6,4 graus já no final deste século. Já o nível do mar poderá se elevar em até 43 centímetros, ameaçando a existência dos pequenos estados insulares.



Fonte: http://www.ipsnoticias.net/nota.asp?idnews=93982



*Tradução livre feita por Flavia Speiski dos Santos, estagiária do Instituto Brasil PNUMA, a partir de artigo retirado do site do Escritório Regional do PNUMA para a América Latina.

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