sexta-feira, 18 de março de 2011
 

As abelhas sob bombardeio: Relatório mostra múltiplos fatores por trás das perdas de polinizadores


De produtos químicos a poluição do ar, o novo relatório do PNUMA aponta para múltiplos fatores por trás das perdas de polinizadores

Genebra/Nairóbi – Mais de uma dúzia de fatores, variando da diminuição na plantação de flores e do uso de inseticidas prejudiciais para a poluição do ar, podem estar por trás do declínio emergente de colônias de abelhas em várias partes do mundo. Os cientistas alertam que sem mudanças profundas na maneira como os seres humanos gerenciam o planeta Terra, a diminuição de polinizadores necessários para alimentar a crescente população provavelmente continuará. Novos tipos de fungos patogênicos – que podem ser fatais para as abelhas e outros insetos polinizadores – estão sendo detectados a nível mundial, migrando de uma região para outra como resultado das transferências ligadas a globalização e o rápido crescimento do comércio internacional. Além disso, uma estimativa de 20.000 espécies de flores, na qual muitas espécies de abelhas dependem para se alimentar, poderiam ser perdidas durante as próximas décadas ao menos que os esforços de conservação sejam intensificados. O crescente uso de produtos químicos na agricultura, incluindo os “inseticidas sistêmicos” e aqueles usados para revestir sementes estão sendo vistos como prejudiciais ou tóxicos para as abelhas. Alguns podem, em conjunto, ser ainda mais potente para os polinizadores, um fenômeno conhecido como “efeito de coquetel”. As mudanças climáticas podem agravar a situação de várias formas, como a alteração dos tempos de floração de plantas e mudanças nos padrões de precipitação. Isso pode, por sua vez, afetar a qualidade e a quantidade do fornecimento de néctar.

Estas são algumas conclusões do novo relatório publicado pelo PNUMA, que reuniu e analisou os dados científicos mais recentes sobre o colapso nas colônias de abelhas. O estudo, intitulado de “Transtornos Globais nas Colônias de Abelhas e outras Ameaças a Insetos Polinizadores” salienta que múltiplos fatores estão relacionados com o modo como os seres humanos estão mudando rapidamente as condições e as regras básicas que suportam a vida na Terra. Isso mostra a forte dependência dos humanos nos serviços ambientais, mesmo em serviços vitais como a produção de alimentos. O estudo indica que as abelhas são os primeiros indicadores de alerta dos impactos mais amplos sobre a vida animal e vegetal e que medidas para impulsionar os polinizadores poderiam não só melhorar a segurança alimentar, mas o destino de muitos animais e plantas economicamente e ambientalmente importantes. Os autores do relatório chamam a atenção para serem oferecidos incentivos aos agricultores e proprietários de terras para restaurarem os habitats dos polinizadores, incluindo plantações de flores ao lado de plantações de alimentos. Entretanto, precisa-se tomar cuidado na escolha, no calendário e na aplicação de inseticidas e outros produtos químicos.

Achim Steiner, subsecretário geral da ONU e diretor executivo do PNUMA, disse: “A forma como a humanidade administra ou administra não corretamente seus ativos baseados na natureza, incluindo os polinizadores, irão em parte definir o nosso futuro coletivo no século XXI. O fato é de que das 100 espécies que provêm 90% da comida do planeta, mais de 70% são polinizadas por abelhas”. “O ser humano têm a ilusão de que no século XXI eles teriam a capacidade tecnológica de serem independente da natureza. As abelhas nos mostram que somos mais, não menos, dependentes dos serviços da natureza em um mundo de quase sete bilhões de pessoas”.

As Abelhas e a Economia Verde

No próximo ano, as nações de reúnem novamente no Rio de Janeiro, 20 anos após a Eco-92, para aumentar os esforços internacionais para se alcançar o desenvolvimento sustentável, através da aceleração e ampliação da transação para um baixo teor de carbono, um recurso eficiente conhecido como Energia Verde. Parte dessa transição deveria incluir o investimento em serviços baseados na natureza gerados por florestas e recifes de coral. “Rio+20 é uma oportunidade para ir além de definições estreitas de riqueza e para trazer o muitas vezes invisível multi-trilhões de dólares de serviços da natureza, incluindo a polinização de insetos como as abelhas em contas nacionais e globais”, disse Steiner.

“Alguns países, como o Brasil e a Índia, já se envolveram nessa transformação como parte de uma parceria entre o PNUMA e o Banco Mundial. É hora de ampliar e incorporar este trabalho em toda a economia global a fim de inclinar a balança em favor da gestão”, ele adicionou. O novo relatório sobre os transtornos globais nas colônias de abelhas foi liderado pelos pesquisadores Peter Neumann do Centro de Pesquisa da Suíça em Abelhas e Marie-Pierre Chauzat da Agência Francesa para o Meio Ambiente e Segurança e Saúde Ocupacional. Neumann disse: “A transformação das áreas do interior e áreas rurais na metade do século passado provocou um declínio nas colônias de abelhas silvestres e outros polinizadores”. “Esse relatório indica que uma variedade de fatores estão tornando essas colônias extremamente vulneráveis ao declínio e colapso. Nós precisamos nos informar melhor sobre como gerenciar essa “crise”, mas talvez o mais importante seja o melhor gerenciamento das terras a fim de recuperar as colônias de abelhas silvestres”, ele acrescentou.

Destaques do Relatório

Perdas Regionais

A diminuição do gerenciamento de colônias de abelhas data de meados da década de 60 na Europa, e se acelerou desde 1988, especialmente na Bélgica, França, Alemanha, Itália, Espanha e Reino Unido. Na América do Norte, a perda de colônias de abelhas, desde 2004, deixou o continente com menos números de polinizadores nos últimos 50 anos. Um quarto dos apicultores no Japão enfrentou recentemente perdas súbitas de suas colônias de abelhas.

Fatores múltiplos

- Degradação do habitat, incluindo a perda de espécies de plantas que geram comida para as abelhas, está entre um dos fatores chaves para o declínio de polinizadores selvagens. Um estudo mostrou que desde 1980, houve uma queda de 70% das principais flores silvestres;
- Parasitas e pestes são também um fator. As abelhas também podem estar sofrendo de concorrência das “espécies exóticas”, tais como as abelhas africanizadas nos Estados Unidos.
- A poluição do ar pode estar interferindo na habilidade das abelhas de acharem flores e assim, comida. Perfumes de plantas que podiam viajar por mais de 800 metros em 1800 hoje alcançam menos de 200 metros.
- Herbicidas e pesticidas podem estar diminuindo a disponibilidade de plantas e flores silvestres para comida e para o estágio de larvas de alguns polinizadores. Alguns estudos de laboratórios descobriram que alguns inseticidas e fungicidas, em conjunto, podem ser 1000 vezes mais tóxicos para as abelhas.
- O manejo de colméias também pode estar contribuindo para o problema. Alguns dos tratamentos contra pragas podem ser prejudicial para as abelhas.
- O transporte de abelhas de uma fazenda para outra para fornecer serviços de polinização cada vez mais indisponíveis na natureza pode ser um fator adicional. Nos Estados Unidos, caminhões que transportam até 20 milhões de abelhas são comuns e a cada ano mais de dois milhões de colônias de abelhas viajam pelo continente.As taxas de mortalidade, na seqüência do transporte, podem ser em torno de 10% de uma colônia de abelhas.

O relatório completo sobre os “Transtornos Globais nas Colônias de Abelhas e outras Ameaças a Insetos Polinizadores” pode ser encontrado no seguinte link:
http://www.unep.org/dewa/Portals/67/pdf/Global_Bee_Colony_Disorder_and_Threats_insect_pollinators.pdf

O relatório é parte de uma série do PNUMA – Questões Emergentes, que podem ser encontradas: http://www.unep.org/dewa/EarlyWarning/tabid/4435/Default.aspx


*Tradução livre feita por Flavia Speiski dos Santos, estagiária do Instituto Brasil PNUMA, a partir do site do PNUMA.

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