Clima descontrolado até Cancun
Por Julio Godoy
09/08/2010
O clima mundial mostra perturbações graves enquanto que às discussões políticas para adotar um acordo contra o aquecimento global navegam à deriva, alertam especialistas.
Calor inusitado, inundações, secas e furacões cada vez mais freqüentes e intensos. Já escutou esta noticia? Quando se estreitam as opções para negociar um pacto mundial contra o aquecimento global, a ONU insiste em enfatizar a emergência das “condições extremas”. Um olhar sobre o clima global mostra sinais de tais condições. Nos Andes da América do Sul, as tempestades de neves deste inverno foram tão intensas que mataram centenas de pessoas. Mas, ao mesmo tempo, os glaciares peruanos e bolivianos estão derretendo rapidamente.
No Paquistão e outras regiões da Ásia central, prolongadas chuvas torrenciais causaram inundações, provocando muitas mortes. Em toda a Europa e América do Norte, o presente verão apresenta temperaturas elevadíssimas. Na Rússia, por exemplo, as temperaturas atingiram 40° Celsius, junto com uma seca extrema, que provocou no fim de Julho e princípio de Agosto incêndios gigantescos em torno da capital e em mais seis regiões do país, obrigando o governo a decretar estado de emergência. O calor, a seca e o fogo já mataram mais de duas mil pessoas, destruindo milhares de casas e cerca de dez milhões de plantações.
“O teto da casa da humanidade está ardendo”, disse um ativista ambiental que assistiu em Bonn a terceira rodada das negociações preparatórias para a 16° Conferência das Partes (COP-16), que ocorrerá em Novembro e Dezembro no México. Nos corredores do hotel em Bonn, onde ocorreu a reunião entre os dias 2 e 6 de agosto, havia cartazes alertando sobre as conseqüências do aquecimento global. Segundo a NASA, as altas temperaturas registradas entre Março e Junho no planeta fizeram história: foi o período mais quente registrado nos últimos 130 anos. Além das catástrofes, o aquecimento global tem outras conseqüências desastrosas.
Na Europa, governos e empresários temem que as altas temperaturas e secas conduzam a enormes perdas agrícolas. “A colheita de grãos e cereais este ano será reduzida em 10%, o que significa 25 milhões de toneladas”, disse um dos comerciantes de produtos agrícolas mais importantes da Alemanha. Essas perdas representam escassez de alimentos, alta de preços e insegurança alimentar. A nova secretária executiva da COP-16, Christiana Figueres, lembrou uma vez mais aos governos dos países industrializados suas “responsabilidades este ano de dar um passo essencial na batalha contra as mudanças climáticas”.
Na Conferência que ocorrerá em Cancun, os governos deverão aprovar um acordo vinculante que regule a redução de emissões de gases do efeito estufa a partir de 2012, quando expira o primeiro período de obrigações do Protocolo de Kyoto. “Necessitamos estabilizar as emissões antes de 2030, e reduzi-las em 50% antes de 2050 para limitar o aumento médio da temperatura global a 2° C a partir das medições da era pré-industrial”, disse Figueres.
Entretanto, o mundo enfrenta um grande paradoxo: por um lado, necessitará satisfazer a crescente demanda por energia, especialmente nos países em desenvolvimento. Por outro, deverá evitar o aumento das emissões provocadas pela queima de combustível fóssil, como o petróleo. Para gerar energia limpa e criar uma economia de baixa intensidade de carbono, a Secretaria da Convenção Quadro estima que seja necessários investimentos de cerca de 20 bilhões de dólares. Mais da metade destes fundos deveriam favorecer os países em desenvolvimento.
A quantia é relativamente baixa, comparada com o custo da mitigação das mudanças climáticas. “Por um dólar investido para gerar energia limpa nos países em desenvolvimento, o mundo iria poupar cerca de 7 dólares em custos da mitigação”, disse Figueres. A responsabilidade de reduzir os gases causadores do efeito estufa “cai sobre os países industrializados”, disse o representante especial da China em Bonn.
“Nos últimos 200 anos, os países industriais, com seus modos de produção e vida, provocaram uma grande acumulação de dióxido de carbono na atmosfera”, lembrou o representante da China. “A responsabilidade histórica e moral dos países industrializados é muito clara”. Ainda que o representante chinês não tenha mencionado os Estados Unidos, sua mensagem estava dirigida a Washington. Este país possui a maior quantidade de emissões de gases do efeito estufa por habitante, mas o governo se nega a ratificar o Protocolo de Kyoto e o Senado cancelou, no final de Julho, uma iniciativa de lei contra as mudanças climáticas.
O fato dos Estados Unidos não assumirem suas responsabilidades ambientais globais continua bloqueando as negociações até Cancun, a tal ponto que os especialistas e observadores sugeriram suspender-las e buscar canais alternativos. “De repente deveríamos simplesmente aprovar a prolongação do Protocolo de Kyoto para além de 2012”, disse Figueres. Outros, como Jo Leinen, presidente do comitê ambiental do Parlamento Europeu, crêem que a Convenção Quadro da ONU tem demonstrado sua inutilidade nas negociações para combater as mudanças climáticas.
“Se Cancun fracassar, e tudo sugere que vai fracassar, deveríamos considerar uma coalizão de países voluntários, realmente comprometidos com o combate as mudanças climáticas”, disse Leinen. “Essa coalizão deveria representar ao menos 80% das emissões”. Visto que a China encabeça a lista de maiores poluentes, com 23% das emissões globais, seguida dos EUA, (20%) tal coalizão deveria incluir alguma dessas nações. Uma missão que, no momento, parece impossível.
Fonte: http://www.tierramerica.info/nota.php?lang=esp&idnews=3708
*Tradução livre feita por Flavia Speiski dos Santos, estagiária do Instituto Brasil PNUMA, a partir de artigo do site do Escritório Regional do PNUMA para a América Latina.
09/08/2010
O clima mundial mostra perturbações graves enquanto que às discussões políticas para adotar um acordo contra o aquecimento global navegam à deriva, alertam especialistas.
Calor inusitado, inundações, secas e furacões cada vez mais freqüentes e intensos. Já escutou esta noticia? Quando se estreitam as opções para negociar um pacto mundial contra o aquecimento global, a ONU insiste em enfatizar a emergência das “condições extremas”. Um olhar sobre o clima global mostra sinais de tais condições. Nos Andes da América do Sul, as tempestades de neves deste inverno foram tão intensas que mataram centenas de pessoas. Mas, ao mesmo tempo, os glaciares peruanos e bolivianos estão derretendo rapidamente.
No Paquistão e outras regiões da Ásia central, prolongadas chuvas torrenciais causaram inundações, provocando muitas mortes. Em toda a Europa e América do Norte, o presente verão apresenta temperaturas elevadíssimas. Na Rússia, por exemplo, as temperaturas atingiram 40° Celsius, junto com uma seca extrema, que provocou no fim de Julho e princípio de Agosto incêndios gigantescos em torno da capital e em mais seis regiões do país, obrigando o governo a decretar estado de emergência. O calor, a seca e o fogo já mataram mais de duas mil pessoas, destruindo milhares de casas e cerca de dez milhões de plantações.
“O teto da casa da humanidade está ardendo”, disse um ativista ambiental que assistiu em Bonn a terceira rodada das negociações preparatórias para a 16° Conferência das Partes (COP-16), que ocorrerá em Novembro e Dezembro no México. Nos corredores do hotel em Bonn, onde ocorreu a reunião entre os dias 2 e 6 de agosto, havia cartazes alertando sobre as conseqüências do aquecimento global. Segundo a NASA, as altas temperaturas registradas entre Março e Junho no planeta fizeram história: foi o período mais quente registrado nos últimos 130 anos. Além das catástrofes, o aquecimento global tem outras conseqüências desastrosas.
Na Europa, governos e empresários temem que as altas temperaturas e secas conduzam a enormes perdas agrícolas. “A colheita de grãos e cereais este ano será reduzida em 10%, o que significa 25 milhões de toneladas”, disse um dos comerciantes de produtos agrícolas mais importantes da Alemanha. Essas perdas representam escassez de alimentos, alta de preços e insegurança alimentar. A nova secretária executiva da COP-16, Christiana Figueres, lembrou uma vez mais aos governos dos países industrializados suas “responsabilidades este ano de dar um passo essencial na batalha contra as mudanças climáticas”.
Na Conferência que ocorrerá em Cancun, os governos deverão aprovar um acordo vinculante que regule a redução de emissões de gases do efeito estufa a partir de 2012, quando expira o primeiro período de obrigações do Protocolo de Kyoto. “Necessitamos estabilizar as emissões antes de 2030, e reduzi-las em 50% antes de 2050 para limitar o aumento médio da temperatura global a 2° C a partir das medições da era pré-industrial”, disse Figueres.
Entretanto, o mundo enfrenta um grande paradoxo: por um lado, necessitará satisfazer a crescente demanda por energia, especialmente nos países em desenvolvimento. Por outro, deverá evitar o aumento das emissões provocadas pela queima de combustível fóssil, como o petróleo. Para gerar energia limpa e criar uma economia de baixa intensidade de carbono, a Secretaria da Convenção Quadro estima que seja necessários investimentos de cerca de 20 bilhões de dólares. Mais da metade destes fundos deveriam favorecer os países em desenvolvimento.
A quantia é relativamente baixa, comparada com o custo da mitigação das mudanças climáticas. “Por um dólar investido para gerar energia limpa nos países em desenvolvimento, o mundo iria poupar cerca de 7 dólares em custos da mitigação”, disse Figueres. A responsabilidade de reduzir os gases causadores do efeito estufa “cai sobre os países industrializados”, disse o representante especial da China em Bonn.
“Nos últimos 200 anos, os países industriais, com seus modos de produção e vida, provocaram uma grande acumulação de dióxido de carbono na atmosfera”, lembrou o representante da China. “A responsabilidade histórica e moral dos países industrializados é muito clara”. Ainda que o representante chinês não tenha mencionado os Estados Unidos, sua mensagem estava dirigida a Washington. Este país possui a maior quantidade de emissões de gases do efeito estufa por habitante, mas o governo se nega a ratificar o Protocolo de Kyoto e o Senado cancelou, no final de Julho, uma iniciativa de lei contra as mudanças climáticas.
O fato dos Estados Unidos não assumirem suas responsabilidades ambientais globais continua bloqueando as negociações até Cancun, a tal ponto que os especialistas e observadores sugeriram suspender-las e buscar canais alternativos. “De repente deveríamos simplesmente aprovar a prolongação do Protocolo de Kyoto para além de 2012”, disse Figueres. Outros, como Jo Leinen, presidente do comitê ambiental do Parlamento Europeu, crêem que a Convenção Quadro da ONU tem demonstrado sua inutilidade nas negociações para combater as mudanças climáticas.
“Se Cancun fracassar, e tudo sugere que vai fracassar, deveríamos considerar uma coalizão de países voluntários, realmente comprometidos com o combate as mudanças climáticas”, disse Leinen. “Essa coalizão deveria representar ao menos 80% das emissões”. Visto que a China encabeça a lista de maiores poluentes, com 23% das emissões globais, seguida dos EUA, (20%) tal coalizão deveria incluir alguma dessas nações. Uma missão que, no momento, parece impossível.
Fonte: http://www.tierramerica.info/nota.php?lang=esp&idnews=3708
*Tradução livre feita por Flavia Speiski dos Santos, estagiária do Instituto Brasil PNUMA, a partir de artigo do site do Escritório Regional do PNUMA para a América Latina.
Marcadores: artigos