quarta-feira, 12 de maio de 2010
 

Sociedade civil clama por um Banco Mundial todo verde


*Por Matthew Berger

WASHINGTON, 27 de abril (IPS) – Organizações sociais pedem ao Banco Mundial uma nova estratégia em matéria energética, aproveitando as reuniões conjuntas com o Fundo Monetário Internacional deste fim de semana.

O Banco Mundial (BM) está estudando a estratégia e a pauta em que baseará a concessão de empréstimos para projetos de energia, com previsão de término no inicio do próximo ano. Todavia, este processo é muito questionado.

O empréstimo concedido à companhia sul-africana Eskom, aprovado pelos diretores executivos do BM neste mês, causou uma grande controvérsia, visto que seria utilizado para a construção de uma central elétrica de carbono. Inclusive, representantes dos Estados Unidos, da Grã Bretanha, da Holanda, da Itália e da Noruega se abstiveram.

Em consonância com organizações da sociedade civil, os delegados desses países se opuseram ao projeto – além dos possíveis danos causados por suas emissões contaminantes à água e ao ar, não foi realizado um estudo de impacto sobre as possibilidades reais de se melhorar o acesso à energia no país, nem se poderia afirmar ao certo as consequências da concessão de crédito na moeda local, o rand.

O pacote também incluí fundos menores para projetos de fontes alternativas na África do Sul, que, no entanto, são relativamente grandes em comparação ao que geralmente se destina a esse tipo de atividade em específico.

Segundo numerosos analistas, a iniciativa também permitirá aumentar os vínculos entre a África do Sul e o Banco, permitindo que a instituição pressione as nações em desenvolvimento a promoverem soluções limpas.

A questão de como e quando o Banco deve recorrer à sua influência para que as nações em desenvolvimento se concentrem diretamente em energias limpas não e um assunto simples.

Não obstante, a aprovação do empréstimo a Eskom deixou clara uma questão: a análise das pautas pelas quais a organização outorga empréstimos está em “o deve” [expressão de contabilidade], dadas as consequências da mudança climática.

A nova estratégia do BM é lograr que mais gente tenha energia sem agravar o impacto do aceleramento da mudança climática. Neste contexto, é um dos setores mais controversos da política da instituição.

Ademais, é uma oportunidade para que esta agência seja o principal propulsor de energias renováveis, segundo as organizações não-governamentais.

As reuniões deste fim de semana coincidem com o período de revisão da política energética do Banco Mundial, que vai de janeiro a maio e é o período quando a instituição consulta outras organizações.

O BM deve ser parte importante da solução e não parte do problema”, afirmou Jake Schmidt, do Conselho de Defesa de Recursos Naturais.

Terminar com a pobreza e frear a mudança climática não devem ser objetivos distintos e compensáveis, mas são “assuntos que devem ser resolvidos e que requerem a inovação do Banco Mundial”, disse Schimidt a IPS. São necessárias mais análises sobre as opções disponíveis e consultas mais profundas com países beneficiários.

“O Banco deve perguntar aos países por que eles precisam dessa energia, se é realmente para ajudar os necessitados – creio que está claro de que no caso da Eskom não foi – e logo considerar os recursos energéticos de forma holística, incluir a eficiência energética e as fontes alternativas”.

Adicionou que o BM deveria estudar como cobrir as brechas entre o preço das energias renováveis e dos combustíveis fósseis.

Por sua vez, o especialista em energia sustentável Yong Chen também crê que é possível reduzir a pobreza e realizar uma transição até dontes alternativas.

“Compensação é a palavra do Banco Mundial”, disse Chen. “Não cremos que há uma compensação”, manteve.

Chen realizou várias recomendações específicas para melhorar o acesso a fontes energéticas confiáveis e sustentáveis e para impulsionar a transição para um desenvolvimento que não haja, ou que quase não haja, emissão de dióxido de carbono.

Suas propostas incluem aumentar o financiamento de sistemas energéticos mais eficientes e também para fontes renováveis em 40% ao ano a partir do começo de 2011; retirar aos poucos os empréstimos para projetos de combustíveis fósseis para países médios até 2012; e “contemplar serviços limpos, confiáveis e sustentáveis” às 700 milhões de pessoas que se encontram abaixo ou na linha de pobreza em 2021.

Uma pesquisa realizada por Bretton Woods Project, com sede em Londres, a italiana Campagna per la riforma della Banca Mondiale e a alemã Urgewald critica as contradições da estratégia de empréstimos do Banco Mundial e seu compromisso em combater aos impactos da mudança climática em um Sul em desenvolvimento.

Segundo seus autores, os empréstimos para iniciativas com combustíveis fósseis ainda têm um “papel dominante” na carteira energética do BM, seja pelos fundos existentes para melhorar a eficiência energética, seja por causa daqueles destinados a fontes renováveis.

Ademais, constatam que as plantas de carbono “obrigam as nações em desenvolvimento a depender dessa fonte de energia por várias décadas” e desobedecem uma parte substancial do mandato do Banco Mundial, referente à melhoria no acesso à energia.

Os autores também recomendam um maior equilíbrio entre a carteira energética entre “sistemas que oferecem energia, direcionados ao produto, autônomos, centralizados e descentralizados”, um objetivo efetivo para reduzir aos pouco os empréstimos para projetos com combustíveis fósseis aos países até 2020. Também recomendam a incorporação de iniciativas que emitam pouco dióxido de carbono, para completar a transição estrutural, operativa e de pessoas.

http://www.ipsnoticias.net/nota.asp?idnews=95258

*Tradução livre feita por Larissa Duarte de Carvalho, estagiária do Instituto Brasil PNUMA, a partir de artigo retirado do site do Escritório Regional do PNUMA para a América Latina.

Marcadores: