terça-feira, 7 de julho de 2009
 

Construção Sustentável: um poderoso aliado da saúde ambiental do planeta


As construções oferecem um enorme campo para a economia de energia, e talvez as oportunidades mais amplamente reconhecidas de aumento da eficiência energética estejam nos lares e nos locais de trabalho. (Relatório Brundtland, 1987)
Todas as pesquisas, estudos e avaliações quanto à saúde ambi­ental de nosso planeta chegam ine­xoravelmente à conclusão, hoje já encarada como indiscutível, de que o grau de deterioração dos ecos­sistemas da Terra, em grande par­te provocado por ações antrópi­cas, está atingindo níveis que po­dem colocar em risco a sobrevivên­cia de muitas das espécies vege­tais e animais que aqui habitam. Incluindo nós, os seres humanos. Em um contexto como esse, ne­nhuma atividade econômica pode prescindir de uma avaliação criteri­osa de seus potenciais impactos quanto ao consumo de recursos naturais ou à liberação de poluen­tes para o meio ambiente, levando em conta todas as etapas de seu ciclo de vida.

Essa preocupação com a efici­ência ambiental, ou ecoeficiência, começa a estender-se, cada vez com maior celeridade, a um dos setores mais tradicionais da ativi­dade humana: a construção civil. Alguns dados relacionados à construção civil permitem consoli­dar um quadro nítido da grandeza dos impactos negativos que a ativi­dade pode impor ao meio ambiente: .Mais da metade dos recursos naturais extraídos na América Lati­na são consumidos na construção civil;
  1. Os resíduos das construções e demolições no Brasil totalizam cerca de 80 milhões de toneladas por ano;
  2. A operação de edifícios no Brasil é responsável por 18% do consumo total de energia no país e por 50% do consumo de energia elétrica;
  3. Os edifícios são responsáveis por 25% das emissões globais de gases de efeito estufa.
A magnitude desses impactos abre, por outro lado, imensas oportunidades de melhoria, uma vez que as principais tecnologias necessárias à melhoria do de­sempenho ambiental das edifica­ções já se encontram disponíveis hoje em dia, abrangendo todas as etapas do ciclo de vida dos edifí­cios, desde a concepção e proje­to, passando pelos processos de construção e de uso das edifica­ções e chegando até a etapa de demolição.

A fase de ocupação do edifício é merecedora de especial atenção, pois nessa etapa, até mesmo em função de sua longa duração, con-centram-se as maiores parcelas de impacto ambiental e de custos. A concepção adequada do edifício, o uso de materiais isolantes mais efi­cazes e de técnicas de circulação de ar podem permitir, por exemplo, redução significativa dos impactos ambientais associados à energia necessária para aquecimento/re­frigeração; projetos arquitetônicos que viabilizem o melhor aprovei­tamento da iluminação natural, con­jugados ao uso das lâmpadas mais eficientes hoje disponíveis e de sensores de movimento, condu­zem à sensível redução na de­manda de energia para ilumina­ção; o reaproveitamento das águas servidas ou da chuva pode minimi­zar a necessidade de captação de água das redes municipais de abastecimento.

Os governos também têm um papel fundamental a desempenhar no engajamento de todos os agen­tes sociais rumo à maior sustenta­bilidade da construção civil, por meio de ações como:
  1. Educação e conscientização dos moradores e ocupantes de pré­dios residenciais e comerciais no sentido de orientar suas escolhas e comportamentos na direção de produtos, serviços e atitudes mais ecoeficientes;
  2. Incentivo à melhoria da efici­ência energética de prédios novos e já existentes e à introdução de inovações no projeto e operação de edifícios;
  3. Estabelecimento de códigos, padrões, mecanismos de avalia­ção e sistemas de rotulagem ambi­ental para prédios, eletrodomésti­cos e sistemas de iluminação, con­siderando inclusive seus ciclos de vida;
  4. Incentivo à renovação de pré­dios residenciais e comerciais, com a adoção de tecnologias ambien­talmente mais amigáveis.
No mundo todo podem ser en­contrados exemplos de ações go­vernamentais voltadas para a me­lhoria do desempenho ambiental da construção.

No Brasil, o Procel – Programa Nacional de Conservação de Ener­gia Elétrica criou em 2003 o pro-grama Procel Edifica, que visa a promover condições para o uso eficiente da eletricidade nas edifi­cações, reduzindo os desperdícios de energia, de materiais e os im­pactos sobre o meio ambiente, por meio de projetos nas áreas de ca­pacitação tecnológica e profissio­nal, inserção do tema conforto ambiental e eficiência energética nos cursos de arquitetura e enge­nharia, bem como pela dissemina­ção dos conceitos e práticas de eficiência energética das edifica­ções e conforto ambiental entre os profissionais de arquitetura e en­genharia e aqueles envolvidos em planejamento urbano.

O Procel Edifica estima que seria possível obter uma melhoria de 30% na eficiência energética de prédios já existentes por meio de reformas e modernizações e de 50% com a introdução de tecnologias mais eco­eficientes no projeto, construção e operação de novos edifícios.

Também a União Européia, com a Diretiva 2002/91/EC, manifestou seu compromisso com a melhoria do desempenho energético das edificações, estabelecendo requi­sitos tais como:
  1. Aplicação de estrutura e me­todologia para o cálculo do desem­penho energético integrado de edificações;
  2. Requisitos mínimos para o de­sempenho energético de novas construções e de grandes edifica­ções já existentes submetidas a reformas e renovações de maior porte;
  3. Certificação energética de edificações.
A certificação por terceira parte de edificações começa de fato a ganhar corpo em todo o mundo, com iniciativas como a Leadership in Energy and Environmental De­sign – LEED, promovida pelo Uni­ted States Green Building Council, que concede certificados a prédios que atingem uma determinada pon­tuação em requisitos distribuídos ao longo de sete categorias: loca­lização sustentável, eficiência no uso da água, energia e atmosfera, materiais e recursos, qualidade ambiental interna, projeto inovador e prioridades regionais. Os requisitos abordam aspectos tais como escolha do local da cons­trução (proteção de áreas verdes, habitats e recursos naturais; reabi­litação de áreas degradadas; possi­bilidade de deslocamento a pé e uso de transporte público como al­ternativa ao transporte individual; maximização de áreas não constru­ídas; espaço prioritário para o esta­cionamento de bicicletas e veículos não poluentes; redução das áreas de solo cobertas e maximização da infiltração da água; redução do uso de água potável e utilização de tec­nologias inovadoras para o trata­mento das águas servidas; estabe­lecimento de padrões mínimos de desempenho energético; utilização de fontes renováveis de energia; uso da iluminação natural; implan­tação de sistemas individuais de medição do consumo de energia; facilidades para coleta e armazena­mento de materiais recicláveis; mi­nimização da poluição provocada pela atividade de construção; ges­tão ambientalmente adequada dos resíduos da construção; utilização de materiais reaproveitados ou re­ciclados, de materiais disponíveis na região e de madeira certificada;

Se o consumo de energia nas edificações continuar a crescer às taxas atuais, elas estarão consumindo em 2050 quase tanta energia quanto a indústria, a manufatura e a mobilidade juntas. (WBCSD, Energy Efficiency in Buildings, 2006)
garantia da qualidade ambiental in­terior das edificações; atendimento a prioridades ambientais específi­cas de cada região. O prédio atualmente ocupado pela Universidade Petrobras no Rio de Janeiro, com 52 mil m2 de área construída, foi o primeiro edifício a receber no Brasil a certificação LEED na modalidade Core & Shell.

O edifício utiliza revestimento ex­terno que minimiza a necessidade de uso de sistemas de condiciona­mento do ar interior, promove o aproveitamento controlado da ilu­minação natural, a coleta da água da chuva e o reuso da água servida em pias e lavatórios, reduzindo em 40% a necessidade de captação de água da rede pública.

Estima-se que um edifício dota­do dessas facilidades custe entre 7% e 10% mais caro que uma cons­trução comum. O investimento adi­cional, porém, é amortizado em pra­zo curto pela redução dos dispên­dios operacionais da edificação, sem contar os inegáveis benefícios para o meio ambiente.

Luis Cesar Stano é gerente de Desem­penho em SMS da Petrobras

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