Investimento em captura e armazenamento de carbono à maneira da natureza
É hora de dar aos bosques e aos manguezais, às turfas e à agricultura que respeita o clima, um papel mais importante na luta contra as mudanças climáticas, assinala o PNUMA.
Dia Mundial do Meio Ambiente 2009 – Seu planeta precisa de você!
CIDADE DO MÉXICO, México / NAIRÓBI, Quênia – Fomentar os investimentos na conservação, reabilitação e gestão dos bosques, turfas, solos e outros ecossistemas essências da Terra poderia gerar reduções consideráveis nas emissões de gases do efeito estufa e evitar a emissão de mais desses gases na atmosfera, segundo um novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
Achim Steiner, Subsecretário Geral das Nações Unidas e Diretor Executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), afirmou: “Destinam-se dezenas de bilhões de dólares à captura e ao armazenamento de carbono em centrais elétricas, mediante a injeção de CO2 na terra e no mar”.
“Mas talvez a comunidade internacional esteja espreitando um método que tem funcionado eficazmente durante milênios: a biosfera. Segundo alguns cálculos, com os ajustes adequados do mercado, os sistemas viventes do planeta poderiam ser capazes de seqüestrar mais de 50 gigatoneladas (Gt) de carbono nas próximas décadas”. agregou.
“Isso também coincide com a Iniciativa para uma Economia Verde do PNUMA, pois pelo mesmo dólar, euro, peso ou yuan não apenas estaremos combatendo as mudanças climáticas, mas também estaremos potencializando benefícios econômicos e ambientais, bem como o desenvolvimento derivado da melhora das reservas hídricas, da estabilização dos solos e das perspectivas para a biodiversidade, juntamente com novos tipos de empregos dignos do meio ambiente na gestão e na conservação dos recursos naturais”, complementou.
A avaliação rápida do PNUMA “A solução natural? O papel dos ecossistemas na mitigação da mudança climática” irá marcar o Dia Mundial do Meio Ambiente, que este ano tem como anfitriões o governo e o povo do México.
Este relatório aparece pouco menos de seis meses antes da crucial reunião das Nações Unidas sobre mudanças climáticas em Copenhague, Dinamarca, na qual os governos deverão comprometer-se com um novo tratado focado em perspectivas futuras.
Principais mensagens do relatório:
• É fundamental gerir o carbono nos sistemas biológicos a fim de salvaguardar as reservas de carbono, reduzir as emissões e maximizar o potencial das zonas naturais e agrícolas para subtrair carbono da atmosfera.
• Os sistemas prioritários são as florestas tropicais, as turfas e a agricultura. Reduzir 50% as taxas de desflorestamento até 2050 e logo mantê-las nesse nível até 2100 evitaria a emissão direta de até 50 Gt de carbono neste século, o que equivale a 12% das reduções de emissões necessárias para manter concentrações atmosféricas de dióxido de carbono inferiores a 450 ppm.
• A degradação das turfas produz até 0.8 Gt de carbono por ano, a maior parte da qual poderia evitar-se mediante sua reabilitação.
• Em termos gerais, o setor agrícola poderia ser neutro em emissões de carbono até 2030, o que equivaleria a 6 Gt se houvesse uma ampla adoção de práticas de gestão sustentáveis.
• É essencial que a política em matéria de mitigação das mudanças climáticas se fortaleça com a melhor informação científica disponível sobre o carbono nos ecossistemas, e que as decisões se baseiem em informação sobre os custos e benefícios totais da gestão do carbono.
• A formulação de política para alcançar esses fins é um desafio: será necessário assegurar que as comunidades locais e indígenas não sejam prejudicadas e considerar o potencial para alcançar benefícios conjuntos para a biodiversidade e os serviços dos ecossistemas.
• As terras áridas, em particular, oferecem oportunidades para combinar a gestão do carbono e a reabilitação de terras.
• A adoção de um marco geral de políticas de acordo com a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas para abordar a gestão do carbono nos ecossistemas representaria um avanço muito significativo.
Florestas: o maior sumidouro
As florestas tropicais abrigam a maior reserva de carbono em terra com uma absorção mundial de cerca de 1,3 Gt de carbono por ano, ou aproximadamente 15% das emissões totais de carbono derivadas de atividades humanas.
Atualmente, calcula-se que as taxas mundiais de desflorestamento em zonas tropicais são de quase 14,8 milhões de hectares por ano. O desflorestamento é responsável por quase um quinto das emissões mundiais de gases do efeito estufa, o que supera todo o setor de transporte.
O desmatamento das florestas tropicais talvez emita de 87 a 120 Gt adicionais de carbono até 2100, o que equivale às emissões de carbono de mais de uma década de queima de combustíveis fósseis no mundo no ritmo atual. Reduzir 50% das taxas de desflorestamento até 2050 e mantê-las nesse nível até 2100 evitaria a emissão direta de até 50 Gt de carbono neste século.
As técnicas convencionais de corte prejudicam ou destroem uma parte substancial da vegetação rasteira durante as operações de exploração, o que provoca grandes perdas de carbono. As técnicas de corte melhoradas podem reduzir as perdas de carbono ao redor de 30% em comparação com as técnicas convencionais.
Considera-se que as florestas tropicais são sumidouros de carbono; segundo pesquisas recentes, absorvem ao redor de 1,3 Gt de carbono por ano em todo o mundo.
Calcula-se que as florestas desse tipo na América Central e do Sul absorvem ao redor de 0,6 Gt de carbono na África, pouco mais de 0,4 Gt e na Ásia e em torno de 0.25 Gt no total, em que a absorção de carbono equivale a aproximadamente 15% das emissões de carbono antropogênicas.
O potencial para melhorar a captura e o armazenamento de carbono nas florestas boreais – que se estendem no Canadá, na Rússia no Alasca e na Escandinávia – é baixo. Apesar disso, compõem a segunda reserva de carbono mais abundante, que poderia emitir à atmosfera a causa de um maior número de incêndios, o ressecamento das turfas, o desmatamento e a mineração.
As florestas temperadas da Europa e da América do Norte têm-se expandido nos anos recentes; calcula-se que na Europa absorvam de 7 a 12% das emissões de carbono. Um maior reflorestamento e melhoras na gestão poderiam incrementar esses percentuais.
Agricultura: climaticamente neutra até 2030
O setor agrícola oferece os maiores e mais fáceis ganhos no armazenamento de carbono se adotarem-se amplamente práticas de gestão ótimas – como evitar a remoção do solo e usar nutrientes naturais como adubo e esterco.
• Podem-se seqüestrar até 6 Gt de CO2 equivalente ao ano até 2030, quantidade comparável com as emissões atuais do setor agrícola.
Muitas das práticas agrícolas que armazenam mais carbono podem aplicar-se com um custo menor ou até mesmo nulo. A maior parte desse potencial (70%) pode realizar-se nos países em desenvolvimento.
• Com base nas emissões de 1990, se se devolvesse toda a raiz às terras agrícolas na China, poderia seqüestrar-se cerca de 5% das emissões de dióxido de carbono ocasionadas pela queima de combustíveis fósseis no país.
Muitas zonas agrícolas nos trópicos têm sofrido um severo esgotamento de suas reservas de carbono no solo. Calcula-se que alguns solos nos sistemas agrícolas tropicais tenham perdido de 20 a 80 toneladas de carbono por hectare, liberado em sua maioria na atmosfera.
O agroflorestamento – quando a produção de alimentos combina-se com a plantação de árvores – tem um potencial particularmente elevado para o seqüestro de carbono em zonas tropicais.
• Calcula-se que o armazenamento médio de carbono por meio da aplicação de práticas agroflorestais é de aproximadamente 10 toneladas por hectare em regiões semiáridas, 20 toneladas por hectare em regiões sub-úmidas e 50 toneladas por hectare em regiões úmidas.
• As taxas de seqüestro dos sistemas agroflorestais de pequena escala nos trópicos são de 1,5 a 3,5 toneladas de carbono por hectare ao ano.
Turfas: abundância de carbono
Ainda que apenas abarquem uma percentagem diminuta da superfície terrestre, as turfas são, metro por metro, os reservatórios de carbono mais eficazes de todos os ecossistemas.
• Em média, as turfas armazenam 1,450 toneladas de carbono por hectare.
• Considera-se que atualmente 65 milhões de hectares das turfas do mundo estão degradados e perdem grandes quantidades de carbono por causa da dissecação; metade dessas perdas ocorre em zonas tropicais.
• No total, a dissecação das turfas tropicais – sobretudo para a obtenção de óleo de palma e de madeira – ocasiona perdas de carbono de até 0,8 Gt ao ano. Os incêndios nas turfas do sudeste asiático são a causa da metade dessas emissões.
O cultivo de biocombustíveis não pode compensar de maneira nenhuma essa emissão de gases do efeito estufa.
• A combustão do óleo de palma produzido em uma turfa dissecada gera de 3 a 9 vezes a quantidade de CO2 produzido ao queimar carbono, o que equivale a uma dívida de carbono para cujo pagamento se requerem 420 anos de produção de biocombustíveis.
Reumidecer as turfas e voltar a plantar florestas em áreas desflorestadas pode reduzir consideravelmente as emissões de gases do efeito estufa no futuro.
Oceanos: próximos da saturação?
Pensa-se que os oceanos têm absorvido cerca de 30% das emissões históricas de carbono, pelo que seriam o segundo maior sumidouro de carbono da atmosfera.
• Apesar disso, a capacidade de absorção dos oceanos e das costas – atualmente de 2 Gt ao ano – é finita e vulnerável.
• Em alguns estudos assinala-se que a capacidade dos oceanos para absorver carbono poderia alcançar um nível máximo de 5 Gt ao ano até finais deste século.
É provável que as oportunidades para aumentar a captura e o armazenamento de carbono estejam nas zonas e nos ecossistemas costeiros, como os pântanos e os manguezais.
• As águas litorâneas de até 200 metros de profundidade, que incluem ecossistemas corais e de pasto marinho, talvez absorvam pouco mais de 0,2 Gt de carbono ao ano.
• Em todo o mundo, os manguezais talvez acumulem ao redor de 0,038 Gt de carbono ao ano, o que indica, considerando a área de cobertura, que seqüestrem carbono mais rapidamente que as florestas terrestres.
Apesar disso, se não forem controladas, os padrões atuais de uso, exploração e efeitos tornarão os pântanos costeiros e os manguezais em fontes de carbono que deixaram de ser sumidouros.
• No relatório, estima-se que a perda extensa de habitats costeiros vegetados já tenha reduzido o enterramento de carbono no oceano ao redor de 0.03 Gt ao ano.
O custo da gestão do carbono nos ecossistemas:
O custo da gestão do carbono nos ecossistemas pode ser muito baixo em comparação com outras opções de “energia limpa”.
• A gestão da pecuária, os fertilizantes e a queima de pastos para reduzir as emissões têm um custo de apenas US$ 5 por tonelada de dióxido de carbono equivalente ao ano.
• O custo da reabilitação de solos e terras degradadas sobe para cerca de US$ 10 por tonelada, enquanto, segundo os cálculos, os custos da captura e do armazenamento tecnológicos de carbono oscilam entre US$ 20 e US$ 270 por tonelada de dióxido de carbono equivalente.
O potencial de mitigação econômica das atividades florestais se duplicaria se os preços do carbono aumentassem de US$ 20 por tonelada de dióxido de carbono equivalente a US$ 100 por tonelada.
• Se as emissões de carbono se valorizarem em US$ 100 de CO2 equivalente, em 2030 o setor agrícola ocupará o segundo lugar, apenas depois da construção civil, como o setor potencialmente mais importante para alcançar diminuições de carbono.
Nesta escala de preços do carbono, as atividades florestais e a agricultura combinadas seriam mais importantes que qualquer outro setor sozinho e seguiriam sendo muito mais importantes ainda que os preços do carbono fossem mais baixos.
No entanto, neste momento o regime climático internacional apenas aborda em parte as emissões derivadas das mudanças no uso do solo, como o desflorestamento, e não oferece incentivos para reduzir as emissões de carbono das florestas e de outros ecossistemas, para não falar de sua conservação como sumidouros de carbono.
Espera-se que os governos que negociem um novo acordo climático em Copenhague em dezembro deste ano dêem o primeiro passo nesta direção, começando a pagar aos países em desenvolvimento pela redução de suas emissões derivadas do desflorestamento e a degradação das florestas.
No relatório, destaca-se a necessidade de considerar um sistema de pagamentos mais amplo pelos serviços dos ecossistemas.
“Os sistemas viventes de nosso planeta têm desenvolvido meios engenhosos, eficientes e rentáveis de gerir o carbono. Enviar os sinais adequados, como preços aos responsáveis pelas decisões econômicas e pelo desenvolvimento sobre o valor de preservar e de manejar eficazmente nossas florestas, pastos e terras cultiváveis, é crucial para o êxito de qualquer estratégia de mitigação das mudanças climáticas”.
O PNUMA e seus sócios, com financiamento do Fundo para o Meio Ambiente Mundial, lançaram um novo projeto entre comunidades do Quênia, do Níger, da Nigéria e da China para avaliar com maior precisão a quantidade de carbono que guardam diferentes ecossistemas e paisagens com diversos regimes de gestão.
Os achados, que darão origem a uma norma mundial em que poderão basear as decisões sobre investimentos em carbono, deverão estar disponíveis em cerca de 18 meses. “Se a comunidade internacional aceitar este desafio, os sistemas viventes do planeta serão nossos melhores aliados na luta contra uma mudança climática perigosa”, concluiu Steiner.
Para maiores informações:
Nick Nuttall, Porta-voz e Diretor de Imprensa do PNUMA, no tel.: +254 (0)20 762 3084, celular no Quênia: +254 733 632755, ou em viagem: +41 79 596 5737, ou email: nick.nuttall@unep.org
O: Anne-France White, Oficial Associada de Informações do PNUMA, no tel.: +254 (0)20 762 3088; celular no Quênia: +254 (0)728 600 494, ou email: anne-france.white@unep.org
O: Xenya Cherny Scanlon, Oficial de Informação, no tel.: +254 (0)20 762 4387, celular: +254 721 847 563, ou email: xenya.scanlon@unep.org
O: Rody Oñate, Oficial de Informações, Escritório Regional do PNUMA, 507-3053164, Email: rody.onate@pnuma.org
Original disponível em http://new.unep.org/Documents.Multilingual/Default.Print.asp?DocumentID=589&ArticleID=6206&l=en&t=long
Tradução livre de Oreste Pedro Maia Andrade Jr., do Comitê Brasileiro do PNUMA, no tel.: +55 21 2262 7546, ou email oreste@brasilpnuma.org.br
Dia Mundial do Meio Ambiente 2009 – Seu planeta precisa de você!
CIDADE DO MÉXICO, México / NAIRÓBI, Quênia – Fomentar os investimentos na conservação, reabilitação e gestão dos bosques, turfas, solos e outros ecossistemas essências da Terra poderia gerar reduções consideráveis nas emissões de gases do efeito estufa e evitar a emissão de mais desses gases na atmosfera, segundo um novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
Achim Steiner, Subsecretário Geral das Nações Unidas e Diretor Executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), afirmou: “Destinam-se dezenas de bilhões de dólares à captura e ao armazenamento de carbono em centrais elétricas, mediante a injeção de CO2 na terra e no mar”.
“Mas talvez a comunidade internacional esteja espreitando um método que tem funcionado eficazmente durante milênios: a biosfera. Segundo alguns cálculos, com os ajustes adequados do mercado, os sistemas viventes do planeta poderiam ser capazes de seqüestrar mais de 50 gigatoneladas (Gt) de carbono nas próximas décadas”. agregou.
“Isso também coincide com a Iniciativa para uma Economia Verde do PNUMA, pois pelo mesmo dólar, euro, peso ou yuan não apenas estaremos combatendo as mudanças climáticas, mas também estaremos potencializando benefícios econômicos e ambientais, bem como o desenvolvimento derivado da melhora das reservas hídricas, da estabilização dos solos e das perspectivas para a biodiversidade, juntamente com novos tipos de empregos dignos do meio ambiente na gestão e na conservação dos recursos naturais”, complementou.
A avaliação rápida do PNUMA “A solução natural? O papel dos ecossistemas na mitigação da mudança climática” irá marcar o Dia Mundial do Meio Ambiente, que este ano tem como anfitriões o governo e o povo do México.
Este relatório aparece pouco menos de seis meses antes da crucial reunião das Nações Unidas sobre mudanças climáticas em Copenhague, Dinamarca, na qual os governos deverão comprometer-se com um novo tratado focado em perspectivas futuras.
Principais mensagens do relatório:
• É fundamental gerir o carbono nos sistemas biológicos a fim de salvaguardar as reservas de carbono, reduzir as emissões e maximizar o potencial das zonas naturais e agrícolas para subtrair carbono da atmosfera.
• Os sistemas prioritários são as florestas tropicais, as turfas e a agricultura. Reduzir 50% as taxas de desflorestamento até 2050 e logo mantê-las nesse nível até 2100 evitaria a emissão direta de até 50 Gt de carbono neste século, o que equivale a 12% das reduções de emissões necessárias para manter concentrações atmosféricas de dióxido de carbono inferiores a 450 ppm.
• A degradação das turfas produz até 0.8 Gt de carbono por ano, a maior parte da qual poderia evitar-se mediante sua reabilitação.
• Em termos gerais, o setor agrícola poderia ser neutro em emissões de carbono até 2030, o que equivaleria a 6 Gt se houvesse uma ampla adoção de práticas de gestão sustentáveis.
• É essencial que a política em matéria de mitigação das mudanças climáticas se fortaleça com a melhor informação científica disponível sobre o carbono nos ecossistemas, e que as decisões se baseiem em informação sobre os custos e benefícios totais da gestão do carbono.
• A formulação de política para alcançar esses fins é um desafio: será necessário assegurar que as comunidades locais e indígenas não sejam prejudicadas e considerar o potencial para alcançar benefícios conjuntos para a biodiversidade e os serviços dos ecossistemas.
• As terras áridas, em particular, oferecem oportunidades para combinar a gestão do carbono e a reabilitação de terras.
• A adoção de um marco geral de políticas de acordo com a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas para abordar a gestão do carbono nos ecossistemas representaria um avanço muito significativo.
Florestas: o maior sumidouro
As florestas tropicais abrigam a maior reserva de carbono em terra com uma absorção mundial de cerca de 1,3 Gt de carbono por ano, ou aproximadamente 15% das emissões totais de carbono derivadas de atividades humanas.
Atualmente, calcula-se que as taxas mundiais de desflorestamento em zonas tropicais são de quase 14,8 milhões de hectares por ano. O desflorestamento é responsável por quase um quinto das emissões mundiais de gases do efeito estufa, o que supera todo o setor de transporte.
O desmatamento das florestas tropicais talvez emita de 87 a 120 Gt adicionais de carbono até 2100, o que equivale às emissões de carbono de mais de uma década de queima de combustíveis fósseis no mundo no ritmo atual. Reduzir 50% das taxas de desflorestamento até 2050 e mantê-las nesse nível até 2100 evitaria a emissão direta de até 50 Gt de carbono neste século.
As técnicas convencionais de corte prejudicam ou destroem uma parte substancial da vegetação rasteira durante as operações de exploração, o que provoca grandes perdas de carbono. As técnicas de corte melhoradas podem reduzir as perdas de carbono ao redor de 30% em comparação com as técnicas convencionais.
Considera-se que as florestas tropicais são sumidouros de carbono; segundo pesquisas recentes, absorvem ao redor de 1,3 Gt de carbono por ano em todo o mundo.
Calcula-se que as florestas desse tipo na América Central e do Sul absorvem ao redor de 0,6 Gt de carbono na África, pouco mais de 0,4 Gt e na Ásia e em torno de 0.25 Gt no total, em que a absorção de carbono equivale a aproximadamente 15% das emissões de carbono antropogênicas.
O potencial para melhorar a captura e o armazenamento de carbono nas florestas boreais – que se estendem no Canadá, na Rússia no Alasca e na Escandinávia – é baixo. Apesar disso, compõem a segunda reserva de carbono mais abundante, que poderia emitir à atmosfera a causa de um maior número de incêndios, o ressecamento das turfas, o desmatamento e a mineração.
As florestas temperadas da Europa e da América do Norte têm-se expandido nos anos recentes; calcula-se que na Europa absorvam de 7 a 12% das emissões de carbono. Um maior reflorestamento e melhoras na gestão poderiam incrementar esses percentuais.
Agricultura: climaticamente neutra até 2030
O setor agrícola oferece os maiores e mais fáceis ganhos no armazenamento de carbono se adotarem-se amplamente práticas de gestão ótimas – como evitar a remoção do solo e usar nutrientes naturais como adubo e esterco.
• Podem-se seqüestrar até 6 Gt de CO2 equivalente ao ano até 2030, quantidade comparável com as emissões atuais do setor agrícola.
Muitas das práticas agrícolas que armazenam mais carbono podem aplicar-se com um custo menor ou até mesmo nulo. A maior parte desse potencial (70%) pode realizar-se nos países em desenvolvimento.
• Com base nas emissões de 1990, se se devolvesse toda a raiz às terras agrícolas na China, poderia seqüestrar-se cerca de 5% das emissões de dióxido de carbono ocasionadas pela queima de combustíveis fósseis no país.
Muitas zonas agrícolas nos trópicos têm sofrido um severo esgotamento de suas reservas de carbono no solo. Calcula-se que alguns solos nos sistemas agrícolas tropicais tenham perdido de 20 a 80 toneladas de carbono por hectare, liberado em sua maioria na atmosfera.
O agroflorestamento – quando a produção de alimentos combina-se com a plantação de árvores – tem um potencial particularmente elevado para o seqüestro de carbono em zonas tropicais.
• Calcula-se que o armazenamento médio de carbono por meio da aplicação de práticas agroflorestais é de aproximadamente 10 toneladas por hectare em regiões semiáridas, 20 toneladas por hectare em regiões sub-úmidas e 50 toneladas por hectare em regiões úmidas.
• As taxas de seqüestro dos sistemas agroflorestais de pequena escala nos trópicos são de 1,5 a 3,5 toneladas de carbono por hectare ao ano.
Turfas: abundância de carbono
Ainda que apenas abarquem uma percentagem diminuta da superfície terrestre, as turfas são, metro por metro, os reservatórios de carbono mais eficazes de todos os ecossistemas.
• Em média, as turfas armazenam 1,450 toneladas de carbono por hectare.
• Considera-se que atualmente 65 milhões de hectares das turfas do mundo estão degradados e perdem grandes quantidades de carbono por causa da dissecação; metade dessas perdas ocorre em zonas tropicais.
• No total, a dissecação das turfas tropicais – sobretudo para a obtenção de óleo de palma e de madeira – ocasiona perdas de carbono de até 0,8 Gt ao ano. Os incêndios nas turfas do sudeste asiático são a causa da metade dessas emissões.
O cultivo de biocombustíveis não pode compensar de maneira nenhuma essa emissão de gases do efeito estufa.
• A combustão do óleo de palma produzido em uma turfa dissecada gera de 3 a 9 vezes a quantidade de CO2 produzido ao queimar carbono, o que equivale a uma dívida de carbono para cujo pagamento se requerem 420 anos de produção de biocombustíveis.
Reumidecer as turfas e voltar a plantar florestas em áreas desflorestadas pode reduzir consideravelmente as emissões de gases do efeito estufa no futuro.
Oceanos: próximos da saturação?
Pensa-se que os oceanos têm absorvido cerca de 30% das emissões históricas de carbono, pelo que seriam o segundo maior sumidouro de carbono da atmosfera.
• Apesar disso, a capacidade de absorção dos oceanos e das costas – atualmente de 2 Gt ao ano – é finita e vulnerável.
• Em alguns estudos assinala-se que a capacidade dos oceanos para absorver carbono poderia alcançar um nível máximo de 5 Gt ao ano até finais deste século.
É provável que as oportunidades para aumentar a captura e o armazenamento de carbono estejam nas zonas e nos ecossistemas costeiros, como os pântanos e os manguezais.
• As águas litorâneas de até 200 metros de profundidade, que incluem ecossistemas corais e de pasto marinho, talvez absorvam pouco mais de 0,2 Gt de carbono ao ano.
• Em todo o mundo, os manguezais talvez acumulem ao redor de 0,038 Gt de carbono ao ano, o que indica, considerando a área de cobertura, que seqüestrem carbono mais rapidamente que as florestas terrestres.
Apesar disso, se não forem controladas, os padrões atuais de uso, exploração e efeitos tornarão os pântanos costeiros e os manguezais em fontes de carbono que deixaram de ser sumidouros.
• No relatório, estima-se que a perda extensa de habitats costeiros vegetados já tenha reduzido o enterramento de carbono no oceano ao redor de 0.03 Gt ao ano.
O custo da gestão do carbono nos ecossistemas:
O custo da gestão do carbono nos ecossistemas pode ser muito baixo em comparação com outras opções de “energia limpa”.
• A gestão da pecuária, os fertilizantes e a queima de pastos para reduzir as emissões têm um custo de apenas US$ 5 por tonelada de dióxido de carbono equivalente ao ano.
• O custo da reabilitação de solos e terras degradadas sobe para cerca de US$ 10 por tonelada, enquanto, segundo os cálculos, os custos da captura e do armazenamento tecnológicos de carbono oscilam entre US$ 20 e US$ 270 por tonelada de dióxido de carbono equivalente.
O potencial de mitigação econômica das atividades florestais se duplicaria se os preços do carbono aumentassem de US$ 20 por tonelada de dióxido de carbono equivalente a US$ 100 por tonelada.
• Se as emissões de carbono se valorizarem em US$ 100 de CO2 equivalente, em 2030 o setor agrícola ocupará o segundo lugar, apenas depois da construção civil, como o setor potencialmente mais importante para alcançar diminuições de carbono.
Nesta escala de preços do carbono, as atividades florestais e a agricultura combinadas seriam mais importantes que qualquer outro setor sozinho e seguiriam sendo muito mais importantes ainda que os preços do carbono fossem mais baixos.
No entanto, neste momento o regime climático internacional apenas aborda em parte as emissões derivadas das mudanças no uso do solo, como o desflorestamento, e não oferece incentivos para reduzir as emissões de carbono das florestas e de outros ecossistemas, para não falar de sua conservação como sumidouros de carbono.
Espera-se que os governos que negociem um novo acordo climático em Copenhague em dezembro deste ano dêem o primeiro passo nesta direção, começando a pagar aos países em desenvolvimento pela redução de suas emissões derivadas do desflorestamento e a degradação das florestas.
No relatório, destaca-se a necessidade de considerar um sistema de pagamentos mais amplo pelos serviços dos ecossistemas.
“Os sistemas viventes de nosso planeta têm desenvolvido meios engenhosos, eficientes e rentáveis de gerir o carbono. Enviar os sinais adequados, como preços aos responsáveis pelas decisões econômicas e pelo desenvolvimento sobre o valor de preservar e de manejar eficazmente nossas florestas, pastos e terras cultiváveis, é crucial para o êxito de qualquer estratégia de mitigação das mudanças climáticas”.
O PNUMA e seus sócios, com financiamento do Fundo para o Meio Ambiente Mundial, lançaram um novo projeto entre comunidades do Quênia, do Níger, da Nigéria e da China para avaliar com maior precisão a quantidade de carbono que guardam diferentes ecossistemas e paisagens com diversos regimes de gestão.
Os achados, que darão origem a uma norma mundial em que poderão basear as decisões sobre investimentos em carbono, deverão estar disponíveis em cerca de 18 meses. “Se a comunidade internacional aceitar este desafio, os sistemas viventes do planeta serão nossos melhores aliados na luta contra uma mudança climática perigosa”, concluiu Steiner.
Para maiores informações:
Nick Nuttall, Porta-voz e Diretor de Imprensa do PNUMA, no tel.: +254 (0)20 762 3084, celular no Quênia: +254 733 632755, ou em viagem: +41 79 596 5737, ou email: nick.nuttall@unep.org
O: Anne-France White, Oficial Associada de Informações do PNUMA, no tel.: +254 (0)20 762 3088; celular no Quênia: +254 (0)728 600 494, ou email: anne-france.white@unep.org
O: Xenya Cherny Scanlon, Oficial de Informação, no tel.: +254 (0)20 762 4387, celular: +254 721 847 563, ou email: xenya.scanlon@unep.org
O: Rody Oñate, Oficial de Informações, Escritório Regional do PNUMA, 507-3053164, Email: rody.onate@pnuma.org
Original disponível em http://new.unep.org/Documents.Multilingual/Default.Print.asp?DocumentID=589&ArticleID=6206&l=en&t=long
Tradução livre de Oreste Pedro Maia Andrade Jr., do Comitê Brasileiro do PNUMA, no tel.: +55 21 2262 7546, ou email oreste@brasilpnuma.org.br
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