domingo, 30 de outubro de 2011
 

Na Linha de Frente




As terras áridas estão na linha de frente das mudanças climáticas, e incluem as pessoas mais pobres e vulneráveis do mundo. Nós já estamos presenciando os terríveis efeitos das mudanças climáticas sobre a pobreza, a sobrevivência, a saúde, a fome, bem-estar humano - e na paz, pois as terras áridas, fortemente impactadas, estão entre as partes mais instáveis do mundo. O trecho de Senegal até o Afeganistão é uma região de grande vulnerabilidade, pobreza e privação de necessidades básicas – alimentação, água, nutrição, acesso à saúde, cuidados veterinários, a segurança para as agricultura e pecuária. A instabilidade está aumentando em toda esta região: conflitos que são de cunho político extremista, ou conflitos políticos, muitas vezes têm em suas bases os desafios da desertificação, o aumento das secas, chuvas mais instáveis, instabilidade nas colheitas, e - em algumas regiões – a incapacidade de se cultivar de forma regrada por mais tempo. A fome atual no “Horn of Africa”, que deixou mais de dez milhões de pessoas lutando pela sobrevivência, é uma demonstração viva e angustiante dos perigos da desertificação e da instabilidade das terras áridas. A partir dos meados do século XX a população aumentou quatro vezes ou mais nestas regiões. As mudanças climáticas estão em confronto com a enorme pressão demográfica - um fenômeno extremamente ameaçador. E ainda, estas questões não estão recebendo sua devida importância em relação à política global e sua resposta exigida. As nossas abordagens padrão em segurança não entendem que por trás das manifestações de violência reside um perigo muito maior e ameaçador- o de risco ecológico das alterações climáticas, as pressões demográficas, e muitas outras pressões. O envolvimento militar não está funcionando, pois questões como a fome, a sobrevivência do gado, e o aumento das tensões entre as populações sedentárias e os criadores de gado nômades ou semi-nômades não podem ser abordadas desta forma

Ainda não vimos uma abordagem consistente e persistente baseada na ciência destes desafios, porque os recursos e atenção política não têm sido dedicados a eles. Precisamos de vários tipos diferentes de respostas. A primeira é científica. Nós não temos uma compreensão verdadeiramente profunda de como as mudanças globais e regionais estão realmente afetando o clima do Sahel, do “Horn of Africa”, no Ocidente e na Ásia Central. Uma prioridade é um completo relato detalhado de como as regiões áridas estão se comportando frente aos sinais do clima global. Precisamos de modelos em menor escala e melhores evidências sobre o que os grandes modelos estão dizendo a respeito das ameaças do futuro para estas regiões. E precisamos compilar os dados de estações meteorológicas para desenvolvermos um relato detalhado e completo do clima nos últimos 30 anos. Para, por fim, criar não apenas uma linha de base para o futuro, mas uma base muito mais rica que nos permita tentar atribuir às mudanças observadas.

Em segundo lugar, existem grandes lacunas no nosso conhecimento da adaptação - ou a falta de adaptação – de sistemas humanos. O que realmente aconteceu com as populações do Sahel desde a seca extrema na década de 1970? Houve alguma recuperação, mas foi significativa? O que a população nômade ou semi-nômade está fazendo? Podemos obter muito mais dados sistemáticos? É claro que o Secretariado da Convenção de Combate à Desertificação das Nações Unidas reúne um acervo de informações e, principalmente, ajuda a divulgá-las à comunidade científica e em desenvolvimento. Mas há muito mais trabalho a se fazer a fim de obter verificações no local em tempo real dessas mudanças, para uso de sensoriamento remoto de forma mais sistemática. Podendo assim, medir flutuações de pecuaristas, gados e bens compreendendo suas vulnerabilidades, e analisar como as pressões demográficas estão afetando essas comunidades. As taxas de fecundidade total permanecem em seis a oito filhos por mulher em muitos locais.

Um desastre demográfico parece estar a caminho, como resultado de uma sobrecarga enorme sobre um ecossistema já sobrecarregado e frágil, que tende a se tornar mais tenso no futuro. O planejamento familiar e os serviços de meios contraceptivos precisam ser postos em prática para mitigar o choque entre as populações em expansão e do clima futuro. O terceiro elemento é, naturalmente, as medidas de intervenção que são extremamente necessárias para a adaptação às mudanças climáticas. Estes variam de preparação emergencial com outros tipos de estratégias de mitigação de risco como, por exemplo, a criação de seguros financeiros, diversificação das atividades econômicas, ou o estabelecimento de alternativas de manejo da paisagem e de armazenamento de água.Comunidades pobres que enfrentam uma multiplicidade de choques e desafios precisam de uma abordagem holística. O Projeto Aldeias do Milênio ajudou a pioneira dessa abordagem nas terras áridas, Dertu, Quênia, perto da fronteira com a Somália. Sua estratégia integrada enfoca cinco áreas-chave. O primeiro aspecto é todo o complexo de gado e plantações. Segundo é o sistema de saúde, que é afetado por problemas relacionados com o clima extremo, assim como os grandes desafios com epidemias de malária, febre “Rip Valley”, peste bovina, ou outras doenças endêmicas. O terceiro é a educação: como empobrecidas comunidades das terras áridas estão seguras de que as próximas gerações terão habilidades e conhecimentos para enfrentar os desafios crescentes que virão? O quarto, criticamente, é infra-estrutura, começando com a água - irrigação abrangente, armazenamento e segurança em caso de seca - mas também incluindo o transporte, o armazenamento, a capacidade de ligar as comunidades locais com os mercados regional e internacional, e a integração aos meios de comunicação que poderá ser uma ferramenta muito poderosa para essas populações das terras áridas, em sua maioria muito dispersas. E a quinta área é o desenvolvimento de negócios, especialmente em torno do gado e outras áreas onde o aumento do valor agregado poderia trazer grande melhoria do bem-estar para as comunidades. Em 2008, o Comitê de Mudanças Climáticas e Desenvolvimento da Suécia lançou um relatório sobre mudanças climáticas e terras áridas recomendando como construir a resiliência (capacidade de lidar e superar os problemas), adaptabilidade, a preparação para emergências, e estratégias de mitigação de risco. Ele propôs a existência de projetos pilotos baseado em comunidade em adaptação com as comunidades pobres e vulneráveis, de áreas urbanas e rurais, em terras áridas. Três anos se passaram e o projeto está começando a tomar forma com Etiópia, Somália, Quénia, Uganda, Djibouti, Sudão e do Sul que se uniram na iniciativa das Terras Áridas. Eles irão trabalhar de forma a utilizar as melhores práticas e tecnologias de ponta para apoiar suas comunidades pastoris no esforço para escapar da pobreza extrema e da fome, apoiado pelos parceiros, Ericsson, Airtel, Novartis, “Sumitomo Chemical, Co Ltda”, e o Banco Islâmico de Desenvolvimento.

Há uma necessidade urgente de uma compreensão integral em respostas baseadas na comunidade - que são cientificamente fundamentadas em saúde educação e o contato com os mercados assim como armazenamento de água e outras infra-estruturas como a melhoria e a sobrevivência dos rebanhos. Isto é de fundamental e de suma importância, não só para o bem-estar dessas comunidades, mas para resolver o que de outra forma será uma epidemia crescente de conflitos violentos.

Para maiores informações: http://www.unep.org/pdf/op_sept_2011/EN/OP-2011-09-EN-FULLVERSION.pdf

*Tradução livre feita por Débora Gabriel Costa estagiária do Instituto Brasil PNUMA, a partir do site do PNUMA.

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