sábado, 26 de setembro de 2009
 

Por que importa o caminho para Copenhague?


BBC Mundo - Esta semana, os líderes mundiais se reunem em Nova York e em Pittsburgh, Estados Unidos, para debaterem sobre as mudanças climáticas e discutirem a situação financeira internacional. José María Figueres, ex presidente de Costa Rica, Juan Mayr, ex ministro do Meio Ambiente da Colômbia e Marina Silva, ex ministra do Meio Ambiente do Brasil explicaram a BBC porque são cruciais essas reuniões.

Sair da atual crise econômica mundial e afrontar o desafio das mudanças climáticas são os objetivos que podem ser alcançados conjuntamente se levarmos ao mundo uma economia baixa em emissões de carbono. Análises realizadas por Lord Stern, entre outros, demostraram que os argumentos ecônomicos para adotar medidas imediatas que mitiguem os efeitos das mudanças climáticas são cansativos. As reuniões que ocorrem nos Estados Unidos devem estar focadas em realizar tal objetivo. A importância desses encontros não pode ser minimizada e o êxito da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP15), a ser realizada em Copenhague em dezembro, onde os líderes do mundo voltarão a se reunir com a intenção de alcançar um novo acordo mundial na luta contra o aquecimento global, estará determinado em grande medida pelos progressos realizados até agora.

A evidência científica é clara: o mundo não pode continuar com os atuais níveis de contaminação. Existe um amplo consenso na comunidade científica de que o limite máximo em relação aos níveis de carbono na atmosfera não devem superar as 350 partes por milhão (PPM). Hoje em dia, como resultado direto das atividades humanas, tais níveis se situam em 386 PPM. Portanto, é essencial que cada país transforme seu modelo de desenvolvimento ecônomico até um baixo nível de emissões de carbono compatível com o crescimento e a ecologia do planeta. A transição até esse modelo econômico de baixas emissões de carbano só ocorrerá se todas as nações tomarem consciência da gravidade desse assunto; o compromisso de todos os países, tanto dos desenolvidos como dos emergentes é vital. Os primeiros, como principais emissores de partículas contaminantes, devem atuar urgentemente. Mas de igual importância os países em vias de desenvolvimento devem evitar uma industrialização com altas emissões de carbono.

Dilema

O dilema de como promover o crescimento econômico sem prejudicar o meio ambiente não é um problema novo. E não se limita aos países em desenvolvimento. Em efeito, com exceção de alguns poucos, em sua maioria europeus, os países do mundo industrializado não reduziram suas emissões o suficiente para dar a eles uma autoridade moral ou alguma vantagem prática nesse debate.

Enquanto que algumas nações estão tomando medidas efetivas – Dinamarca, por exemplo, conseguiu diminuir suas emissões de carbono e consumo enérgetico mesmo que tenha aumentado seu PIB - existem muitos outros países que só estão preparados para assumir pequenos compromissos que são inferiores dos níveis requeridos. A COP15 representa uma oportunidade real para que os representantes das 192 nações do planeta atuem em favor do interesse de toda a humanidade.

Mas se essas mudanças são um verdadeiro desafio para os países mais ricos do planeta, são mais ainda para as economias em vias de desenvolvimento. Nesse sentido, é importante destacar que países como os nossos também estão tomando ações positivas e que nossa determinação é firme. Diferentes planos estão sendo colocados em prática para reduzir as emissões, renunciar as práticas não sustentáveis e fazer uma eficiente transição as novas tecnologias de energias limpas.

O plano da Costa Rica sobre as mudanças climáticas, por exemplo, exige um processo de transição a neutralidade nas emissões de carbono para o ano de 2021; um programa ambicioso, mas que pode ser alcançado. O Brasil, por sua vez, se propõe a reduzir as emissões derivadas do desmatamento – a principal fonte de emissões de gases do efeito estufa – em 80% em 2020, e planeja estabelecer um objetivo de reduçao de emissões nos próximos meses. Outros exemplos incluem a estratégia de meio ambiente plublicada o ano passado pela Africa do Sul ( “Long – Term Mitigation Scenario”) e os planos das Maldivas para alcançar a neutralidade nas emissões de carbono em médio prazo. A Coréia do Sul, por sua vez, está investindo atualmente 80% de seu pacote de estímulo fiscal em medidas relacionadas com as mudanças climáticas. Esses compromissos com o meio ambiente são significativamente mais altos que os que foram propostos pelas nações plenamente desenvolvidas.

O desafio é simples: como reduzir as emissões de gases de efeito estufa e manter a prosperidade ecônomica ao mesmo tempo. Nesse sentido, as mudanças climáticas não são simplesmente um problema de meio ambiente. Também é um problema de desenvolvimento importante. Se trata de como vamos gerar empregos e ingressos no seculo XXI com uma economia de baixo carbono? A pergunta é: como podemos alcançar esse objetivo em todo o mundo?

Quatro Elementos

Para assegurar uma via prática para uma economia de energias limpas – que se mede tanto em ingressos mais altos e um clima mais estável – devemos encontrar uma nova associção entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. Quatro elementos importantes nesse aspecto são:
.Primeiro: o problema das mudanças climáticas é um imperativo moral, econômico e do meio ambiente que não podemos escapar. Aqueles líderes que reconhecem as consequências devastadoras das mudanças climáticas, mas que não decidem tomar nenhuma decisão para conter seu avanço, atuando de forma hipócrita, devem ser responsavéis com o objetivo de fomentar iniciativas que podem ser apresentadas em dezembro.

.Segundo: o mundo em desenvolvimento não é uniforme, é tão diverso como a maioria dos países industrializados. Aqueles países que estabeleceram programas ambiciosos para reduzir a emissão de gases contaminados devem ser reconhecidos, beneficiando-se dos incentivos oferecidos pela comunidade internacional. Para aqueles que não iniciaram o caminho até uma economia de baixo carbono, devem perceber que perdem competitividade, investimentos e oportunidades de crescimento.

.Terceiro: é o momento de se falar em dinheiro. O mundo desenvolvido deve seguir a chamada de aqueles que, como o primeiro ministro britânico Gordon brown, estão comprometidos a financiar esse processo de transição. Sua proposta de investir anualmente US$ 100.000 milhões em novas tecnologicas é um montante mínimo que poderia esperar que fosse acordado durante as reuniões do G20.

.Quarto, e mais importante, os argumentos científicos e econômicos para realizar essa mudança devem ser comunicados a todas as pessoas de todos os países. Os líderes devem falar sobre isso e a sociedade civil deve fazer valer sua voz. E isso é o que deve ser dito.

Uma nova associação com o apoio de importantes investimentos e com um forte líder político é a única maneira de reunir um consenso político global necessário para fazer progresso reais no tema das mudanças climáticas. É justo que os países desenvolvidos exijam mais transparência nos compromissos das nações em desenvolvimento, inclusive se são compromissos voluntários. Mas essas associações ocorrem em ambos os sentidos, e é igualmente justo para os países em desenvolvimento esperar que as nações desenvolvidas assumam compromissos mais ambiciosos que os que até agora estão dipostos a fazer-los.

Para os países desenvolvidos a transição para uma nova economia baixa em carbono irá trazer mais crescimento e emprego, mitigando os efeitos da atual recessão e cimentando o caminho até a recuperação econômica e do meio ambiente. Para as nações em desenvolvimento é uma oportunidade para avançar até um modelo de economia sustentável, evitando a industrialização que seja dana para o meio ambiente no processo. Esse último criará perspectivas de expansão da economia e mais empregos. Chegou o momento para alcançar um acordo sobre mudanças climáticas que seja justo, vinculante e ambicioso, e que contenha ações concretas a serem realizadas por parte de todas as nações do mundo. É por isso que as reuniões de setembro são tão importantes. E esse é o prisma através de qual seu êxito deve ser avaliado.

Fonte: http://www.bbc.co.uk/mundo/ciencia_tecnologia/2009/09/090922_1721_cambio_lp.shtml

*Tradução livre feita por Flavia Speiski dos Santos, estagiária do Instituto Brasil PNUMA, a partir de artigo retirado do site do Escritório Regional do PNUMA para a América Latina.

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terça-feira, 8 de setembro de 2009
 

Agenda - 108


Expo Biodiesel 2009 – Congresso & Feira Internacional de Negócios e Oportunidades do Setor de Biodiesel


De 23 a 25 de novembro, no Rio de Janeiro (RJ).
Realização: Orgadem (Organização de Apoio ao Desenvolvimento dos Municípios). Informações em www.expobiodiesel.org.br.

XI Fimai e XI Simai – Feira e Seminário Internacional de Meio Ambiente Industrial e Sustentabilidade


De 4 a 6 de novembro, em São Paulo (SP).
Realização: Revista do Meio Ambiente Industrial. Informações em www.fimai.com.br ou pelos tels. (11) 3917-2878 e 0800-7701449.

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Credores e devedores ecológicos: o que cabe ao Brasil?


Todos nós conhecemos o conceito de PERCENTUAL DA BIOCAPACID países credores como aqueles que emprestam recursos financeiros para instituições e países distantes.

Mas há um outro tipo de país credor que financia as economias e os meios de vida em lugares distantes. Os chamados “credores ecológicos” são países que têm mais iocapacidade (habilidade dos ecossistemas para produzir recursos e absorver
resíduos) que o necessário para benefício próprio.

Ao prover serviços ecológicos – desde a exportação de recursos madeireiros, por exemplo, até a remoção de CO2 da atmosfera –, colaboram para manter o recurso básico de que depende o resto do mundo. Com uma ampla biocapacidade, que inclusive excede significativamente a demanda ecológica de sua própria população, o Brasil é um dos principais credores ecológicos.

Com a contínua escalada das pressões sobre recursos globais, essa reserva ecológica será progressivamente um recurso vital e valioso, mas que também se torna cada vez mais frágil.



Assegurando o êxito econômico em um mundo de recursos escassos



Há apenas cinco décadas, a vasta maioria da população mundial vivia em países que possuíam reservas ecológicas. Hoje, aumentamos nossa demanda sobre serviços da natureza para tão alto nível que 80% da população mundial agora vivem em países que são “devedores ecológicos”, pois usam mais recursos e serviços ecológicos que os produzidos pelos ecossistemas presentes no interior de suas fronteiras. Esses países dependem de reservas de recursos concentradas nos poucos países que possuem mais biocapacidades que as que utilizam.

Por meio da nossa Iniciativa de Credor e Devedor Ecológi­co, a Global Footprint Network está convocando especialis­tas em formulação de políticas e tomadores de decisão para iniciar um diálogo sobre a crescente importância de bioca­pacidade para a prosperidade e a estabilidade econômica. Se tivermos êxito, os políticos começarão a reconhecer tanto os benefícios tangíveis de se manter os recursos ecológicos quanto o risco que a liquidação desses recursos representa para seus interesses nacionais de longo prazo. Eles irão ver que a diminuição de déficits ecológicos aumentará cada vez mais a confiabilidade da economia de qualquer país.

Considere o Brasil, por exemplo. Alguns podem pensar que possuir tanto capital ecológico significa que o país não precisa se preocupar com a escassez de recursos. Na realidade, a verdade é o contrário. Uma vez que ecossiste­mas intactos se tornam cada vez mais raros, a riqueza ecológica do Brasil será um recurso de crescente valor tanto para assegurar o bem-estar de sua população quanto para manter sua economia forte e competitiva. Enquanto o mundo como um todo se direciona para um overshoot (*), as demandas por esses recursos – diretas, por meio do comércio, ou indiretas, por meio de fenômenos como as mudanças climáticas – irão crescer.

No entanto, a fim de se beneficiar de sua riqueza natural, o interesse do Brasil é mais por mantê-la do que de liquidá­la, como fizeram tantos outros países. Por exemplo, o Brasil poderá encorajar práticas que mantenham a produ­tividade agrícola sem prejudicar determinados ecossiste­mas e sem por em perigo a atual capacidade com o aumento de pesticidas ou da erosão dos solos.

Outra ação fundamental será o foco em decisões que trarão consequências de longo prazo. A construção de infraestruturas – casas, estradas, escritórios, usinas ener­géticas, diques, transportes – pode continuar por mais 50 ou 100 anos. Os tomadores de decisão devem se pergun­tar: estamos investindo em recursos que representam oportunidades ou ciladas? Nossa nova infraestrutura está nos deixando um legado positivo que nos permite ser mais competitivos em um mundo de recursos escassos ou ela é uma cilada que prejudicará nossa riqueza natural?



Revigorando o debate climático



Por que importa se um país é um credor ou um devedor ecológico? A razão tem a ver com o fato de que, por mais de duas décadas, a humanidade tem demandado recursos e produzido resíduo (na forma de emissões de CO2) mais rapidamente do que os recursos podem regenerar-se e do que o resíduo pode ser absorvido – uma condição conheci­da como “overshoot ecológico”. No início dos anos 1960, a humanidade consumiu apenas cerca de metade do que o planeta Terra podia prover. Desde então, o aumento da população humana e do consumoper capta de recursos têm provocado a escalada do overshoot. Nossas contas conclu­em que em 2005, o mais recente ano para os quais há dados disponíveis, a demanda humana excedeu em 30% a capa­cidade de regeneração da Terra.

Os resultados do overshoot são claros e prementes: a rapidez das mudanças climáticas, a insuficiência de colhei­tas, a perda de biodiversidade, a diminuição de águas doces, a redução das florestas e o esvaziamento da pesca.

Apesar dessas rápidas tendências, as negociações globais sobre as crises ambientais estão estagnadas em longos debates e impasses. A maioria dos líderes políticos vê poucos benefícios estratégicos em tomar atitudes corajosas e em fazer políticas ousadas. O cami­nho para alcançar acordos globais (como o emergente acordo de Copenhague sobre mudanças climáticas) tem sido extremamente frágil. Agora com a debilitada situação econômica mundial, há uma alta probabilidade de ajuste. Mas o fato é: se Copenhague for pouco eficiente, o mundo se tornará mais imprevisível, e isso deverá obrigar os países a considerar a escassez de recursos ainda mais seriamen­te do que sob um regime internacional estabelecido em Copenhague.

A perspectiva de um credor/devedor acerca do mundo põe em discussão o elemento revigorante do interesse próprio de um país ou de uma região. Países credores como o Brasil têm motivo econômico, político e estratégico para preservar suas reservas ecológicas. Países devedores como o Mé­xico ou a Suíça têm um interesse direto em reduzir sua exposição por meio da minimização de sua dependência de recursos.

Reconhecer que a humanidade está movendo-se veloz­mente rumo à escassez de recursos e que reinventar nossa infraestrutura urbana para enfrentar essa escassez leva tempo – possivelmente várias décadas – torna claro que não há vantagem em esperar. Se acordos coletivos irão certa­mente acelerar as atitudes, postergá-las gerará aumento de custo e de risco.



Natureza: um recurso nacional chave



Diferentemente de déficits comerciais, em que um crescen­te desequilíbrio é entendido como risco, o mesmo não tem sido verdade com déficits ecológicos. Considere os EUA, país que em 1961 manteve uma reserva ecológica, mas que agora utiliza 87% acima de sua capacidade de regeneração.

O pensamento sobre recursos tem sido sempre o de que podemos consegui-los em algum outro lugar. No entanto, no mundo de hoje, ignorar a escassez de recursos é uma estratégia crescentemente arriscada. Até enquanto dispu­sermos de apenas uma Terra, a matemática é clara: nem todo mundo pode ser importador de recursos.

Assim como para credores ecológicos, o futuro não lhes dá vantagens se eles não se prepararem bem para evitar as dificuldades. Uma vez que as reservas ecológicas ficam progressivamente raras, torna-se crítico para os países credores e devedores empreender novos relacionamentos e fazer políticas que protejam recursos naturais enquanto melhoram a saúde e o bem-estar. A Iniciativa de Credor e Devedor Ecológico irá ajudar países a desenvolver estraté­gias que reconheçam a natureza como um recurso-chave. Nesse jogo, todos podem vencer. Todos irão beneficiar-se da ação antecipada.

Em abril, a Global Footprint Network reuniu-se com espe­cialistas em políticas e representantes governamentais em Lima, no Peru, para lançar a iniciativa e começar uma série de conferências. A organização irá continuar a realizar encontros e sessões internacionais de trabalho durante todo o ano, incluindo a realização de um evento paralelo em Copenhague. No ano que vem, a Global Footprint Network planeja apresentar os resultados de uma sessão de trabalho em vários fóruns e conferências, levando a uma cúpula presidencial sobre biocapacidade no final de 2010.

Uma vez que os líderes e seus apoiadores começarem a entender o valor inerente aos recursos ecológicos, a perspec­tiva pode mudar de “quanto mais reduzirmos o consumo de recursos e a emissão de resíduos, mais dificilmente seremos competitivos” para “quanto mais reduzirmos o consumo, maior será nosso bem-estar e menor nosso risco”.

Isso muda a equação de um jogo de soma negativa, em que riqueza financeira é gerada à custa do meio ambiente, para um jogo de soma positiva, em que o objetivo econômico torna-se assegurar a máxima qualidade de vida com a mínima utilização de recursos.

Mais informações sobre a Iniciativa de Credor e Devedor Ecológico da Global Footprint Network em http://www.%20footprintnetwork.org/creditors.

(*) Overshoot significa exceder, ultrapassar limites acidentalmente – sem qualquer intenção.

Mathis Wackernagel, Ph.D, fundador e diretor-executivo da Global Footprint Network, criou com o professor William Rees a medida de Pegada Ecológica

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